quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Epílogo)

Leitor paciente, leia aqui antes de mais nada:

*
Fui pra cama. De repente, não me sentia no todo. Acho que eu tava apagando de vez, pra ficar coisa de cinco dias dormindo. E cinco noites, claro. Minhas antenas mesmo assim ainda estavam ligadas. Percebi raios catódicos e cognitivos passeando entre meus hemisférios. Parecia que minha mente estava sendo fatiada bem lentamente e em fatias bem modestas – como numa ressonância magnética.

Carol me falava que sempre desejou ficar em transe e conhecer outras galáxias ou mesmo a Nebulosa de Órion; não lembro direito. Eu vagamente ouvi falar dessas experiências; imagine de EQM... Experiência de Quase Morto, como dizem. Tive a sensação de ficar mais leve.

Era a minha alma se dissipando. Ainda dessa forma eu tinha a consciência de que eu existia e tinha um papel no mundo das ideias, logo adiante. Nunca acreditei muito em Deus, mas agora sentia a mão do Criador puxando meus cabelos e chegando mais perto pra conferir meu bafo de álcool. Ele, um sujeito deveras iluminado, se afastou logo. (Acho que ele não gosta de cerveja nem uísque... o negócio dele mesmo é vinho!)

Deus era mais pra um espírito albino sem olhos do que o velhinho de longas madeixas e barba brancas que sempre achei que poderia ser. Afinal, é o que todos pensam dele. Quem sabe se o diabo é lá vermelho...

Nesse meio tempo, consegui ver, mesmo com o ambiente clareando demais, (Devia ter fechado a porra da cortina!) que algo um tanto transparente flutuava logo acima de mim. Era meu espírito.

Eu estava lindo. Um pouco gordinho, mas uma coisa divina. Sem olheira, com a barba feita, tomado banho. No entanto, como eu conseguia pensar, se meu espírito estava fora de mim? (“Ele está fora de si!”) Podiam pensar que eu estava ficando louco. Isso só podia ser um sonho. Tinha de ser!

Eu já estava começando a entrar em pânico. Quando me dei por mim, não conseguia me mexer. Nem uma mecha do cabelo pré-grisalho sequer. Foi aí que entendi o que aquilo em cima de mim, nadando no ar, queria.

Debruçou-se sobre mim, pra lá e pra cá – me assustei um pouco. Ele me fez sinal pra esperar, resmungando que não iria me machucar, afinal de contas, eu era ele. Me perguntei se meu clone sobrenatural tinha os mesmos medos, os mesmos desejos, além das feições.

Ele foi se afastando, com destino certo. (Vou morrer aqui nesse lugar e vai ser agora!) Minha pupila estava meio dilatada e o meu espírito, desfocado. Chegou à geladeira, abriu aquela Brastemp branca velha cheia de cerveja em lata e tirou uma. Minh’alma abriu enfim o líquido e bebericou. (Que porra é essa?!) Fiquei feliz e ao mesmo tempo todo estranho.

Beber depois da morte era algo que me deixava curioso. Que gosto teria? Haveria aquele frenesi nas nossas veias? Por que a cerveja não caia simplesmente no chão, já que aquilo ali à minha frente era somente uma alma penada? Como é que...

Como é que eu voltei a mim mesmo? Só agora acordei. Era um sonho. Tinha sido mesmo?! Decidi parar de beber pra sempre. O medo da morte bateria à porta sempre que olhasse para alguma bebida alcoólica e... E eu queria viver. Quero.

Carol chegou do trabalho – eu ainda estava muito cansado; tinha dormido muito pouco. Dei a notícia:

— Parei de fumar!

— Que bom, amor! Vou poder beijar na sua boca agora — brincou ela.

— Não, não. Parei de beber...

— Hã? Não acredito!

— Tive uma experiência muito caótica enquanto você estava trabalhando e decidi parar com essa merda. Ficar cheirando a cachorro sarnento não é lá muito agradável... Eu nem fico mais bêbado!

— O que aconteceu?

— Nada. Só não quero mais beber nem tocar no assunto.

— Por quê?

— Fiquei com medo.

— Que dia é hoje?! — Ela fez cara de surpresa. As maçãs do rosto foram crescendo, crescendo. Abriu o sorrisão que só ela... — É dia 13. Sexta-feira 13!

— Pare!

— É sexta 13... Mas você, hein? Um homem desse tamanho... Com medo de um diazinho qualquer...

— Não é, não. Eu tenho pavor!

— Deixe de besteira, amor.

— Amor, o caralho!

— Errr. — Carol tinha na feição do que se chama de “O quê, rapaz?!”. Ela ruminou um pouco, não conseguindo engolir aquele insulto. — Não fale assim comigo...

— Se foda! — Peguei uma faca cerrada e fui atrás dela. Me sentia bem com isso. Era uma sensação nova. Ela não acreditava no que via. Estávamos “conversando” na cozinha e ela saiu correndo em direção à sala.

— Fique longe de mim, seu doido, filho da puta!

— Venha cá, sua vaca. Vou lhe mostrar o medroso!

Segui na direção dela, com a ira transbordando nos olhos. Parecia mais um pitbull atrás de um gato siamês manco. Ela tinha tropeçado na mesinha de centro – a canela dela latejava. (E a cadela latia!) Gritava palavrões inaudíveis pra mim, que estava fora de meu estado normal. (Minha alma realmente voltara pra mim? Sou um ser sem alma agora! Vou cortar o pescoço dessa puta!)

— Chegue pra cá, meu bem! Venha sentir a porra da lâmina na sua barriga!

— Eu estou grávida, Darrel!

Aquelas palavras não tinham sabor algum. Nos ouvidos, só ouvia o meu próprio batimento acelerado, dominando as minhas têmporas. Foi aí que ela, dando a volta pelo sofá-cama salmão, tropeçou na mesinha de centro de novo, pegou o narguilé caído e jogou com uma precisão cirúrgica no meu rosto. O vidro dilacerou meu lado direito, logo abaixo do queixo. Fiquei grogue, mas ainda dei uma facada no braço que ela jogara o objeto.

A casa estava se movendo rápido. Era eu caindo no chão. Havia sangue – só não sabia se era todo meu. Na queda, meu pescoço quebrou na bendita mesinha de centro da sala. Carol, um pouco afastada, sentou no tapete e começou a chorar com uma mão na barriga. (O bebê! O meu filho!) Apaguei. Finalmente pude ver minha alma. Ela estava na cozinha, o tempo todo. Estava bebendo as minhas cervejas de novo. Fiquei puto e esqueci do bebê. Aquele era eu-alcoólatra. E eu agora era um bicho.

Quando ela, a alma, retornou, senti uma vibração. Comecei a chorar desacordado. Minhas lágrimas inundaram o tapete ensanguentado e minha mulher pode perceber. Parou de chorar. Veio até mim e fez carícias.

— Seu merda, eu te amo! Mesmo assim. Não morra...

(Eu também te amo! Mas não num dia 13...) Eu já estava morto. Mas não sabia por que minha alma tinha voltado. Esse agora era o meu lugar, pra sempre. Finalmente eu teria a minha própria casa mal-assombrada.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O banheiro

O banheiro é o lugar onde, com efeito, nos parecemos mais. Sentamos num trono de igualdade. No entanto, não estou em tal posição desfavorável. Ajoelhados também somos todos frágeis. A ânsia ou o próprio vômito nos diz: “Ei, bora parar?” – tamanha a nossa teimosia!


Levantei, enchi a mão com água da torneira e beberiquei. Depois bebi. Depois cuspi. Minha boca tinha aquele gosto, sei lá, agridoce. Gosto de cabo de guarda-chuva. Pronto, era isso! Lavei o rosto e me olhei no espelho meio que cinematograficamente, bem devagar.


– Nunca mais eu vou beber – eu disse.


Minha lânguida face escondia um riso tímido. Às vezes, eu acho que a gente nasce pra fazer o que é errado. Eu tenho refluxo. Refluxo gastrointestinal, para os leigos. Leite seria uma ótima pedida. Mas eu só gosto de algo com álcool. Cigarro não me apraz. Fico com o sabor da morte na boca. Minha namorada não merece beijar defunto.


No mais, eu de certo modo estava com o paladar um pouco... diferente. Tratei logo de escovar os dentes. Colgate. Gosto do gosto. Já comi algumas vezes, inclusive. Eu acho que eu tinha dormido e acordado bêbado e precisei de algo doce. Desejos de bêbado – sabe como é...


O engraçado disso tudo é que eu ainda estou me encarando no espelho. Eu pensei: “Espelho, espelho meu! Existe alguém mais bêbado do que eu?”. Depois de exatos cinco segundos, ouvi uma voz obscura pela acústica do banheiro de 3m²:


– Ei... – Eu me arrepiei todo e, meio atordoado, mandei o espelho se foder, pensando, na verdade, que era a minha mente me pregando uma peça. Mas não! De novo, só que dessa vez com autoridade e num tom bem mais agudo:


– Abre logo essa porra de porta que eu quero vomitar... – É, o espelho respondera; havia alguém com mais ressaca que eu. Era a minha namorada, Amanda. Cinco anos mais velha que eu. Era linda. Pra se ter uma ideia, quando fazíamos amor, eu a chupava toda; quando fazíamos sexo, eu começava chupando pelo pé da cama...


– Calma, minha ama Amanda... você me ama?


– Anda! Deixa de conversa que eu tô quase...


Vomitando. Vomitando em cima de mim, ao abrir a porta. Era sexta-feira. O fim de semana, pelo que parecia, tinha começado a mil. Porém, meu raciocínio estava a cinco km/h. Aquilo verde-amarelo-bege-com-pedaços-de-carne-de-frango havia me acordado de vez.


– Porra, Amanda! Você vomitou no meu pinto!


– Bem, acho que foi na sua barriga...


– Mas desceu.


– Desculpa – sugeriu ela, lavando a boca na pia.


– Agora limpe.


Ela veio limpar justamente com a boca com aquele gosto agridoce que eu bem conhecia. Mas não tinha como reclamar. Levantei-a. Dei um beijo daqueles. Ainda tive tempo de abrir o box e enfiá-la lá dentro. (Fizemos sexo ali mesmo, com o chuveiro ‘no quente’.)


De repente, recordei do espelho: “Espelho, espelho meu! Existe alguém mais feliz que eu?”. Sem brincadeira, em outros exatos cinco segundos, Gabriel, meu companheiro de apê, clama do outro lado da porta do banheiro, esmurrando-a:


– Abre aí que eu quero cagar!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O crítico de música

Crítico de música é um bicho que não consigo classificar. É um homo sapiens sapiens sapiens ou sei lá o quê. O cara que sabe da porra-louca toda. Ninguém pode discutir, argumentar, questionar. Isso é bom; aquilo é ruim. O que Platão, Kant, Hegel e Mark Knopfler falaram não importa. “A estética do belo está dentro de você”, dizia.


Numa dessas entrevistas a esses jornalistas de rádio nababos de sabedoria de internet, ele, Nelson Holanda, divagou sobre o tema:


Jornalista: OK, OK, estamos ao vivo. Tudo bem? Seja bem-vindo. O que o senhor acha da música atual?


Nelson Holanda: Olá a todos os ouvintes. Eu não acho nada. A música atual morreu, porque o rock morreu e música pra mim é rock.


Jornalista: Por que o senhor acha que o rock morreu?


NH: O rock errou, como já mencionou Lobão — inclusive é o nome de um CD dele. Bem, esse estilo já foi interessante um dia. Mas morreu e cortou os pulsos junto com o grunge.


Jornalista: Que outros gêneros você recomenda para quem nos lê?


NH: Rock.


Jornalista: Certo. (Risos) Mas o que mais?


NH: Heavy Metal.


Jornalista: Errr, mas não há mais nada que o senhor goste?


NH: Claro.


Jornalista: O quê?!


NH: Gosto de deixar jornalistas do seu naipe assim... voando (risos). Eu tô brincando! Não é só o rock que presta! Gosto de muita coisa além disso. Gosto mesmo é de classificar as pessoas pelo que elas escutam, isso sim! Gosto mesmo.


Jornalista: Ah, é? E o que o senhor acha de quem escuta forró?


NH: Vou fazer um raio-X simples. Quem ouve essas coisas só pode ter problemas. As músicas falam das mesmas coisas. Amor, gaia, sexo pervertido.


Jornalista: Entendo. E sertanejo?


NH: O povo que escuta isso é metido a boyzinho. Gosta de andar em vaquejada e se meter em confusão. Tem na cabeça o que o boi tem. E não tô falando de chifre...


Jornalista: O senhor não acha que está pegando um pouco pesado?


NH: Não.


Jornalista: E quem escuta samba, pagode, MPB?


NH: Por que você colocou tudo num pacote? Ora, quem escuta samba não gosta de pagode e vice-versa. Quer dizer, não sei. Tudo é uma merda só, bem como a Merda Popoular Brasileira.


Jornalista: Nelson, nós estamos ao vivo e milhares de pessoas estão nos ouvindo... Meça as palavras. E, enfim, quem ouve rock é o quê?


NH: Viado.


Jornalista: Como?!


NH: Gay, trolo, homo, baitola, emo.


Jornalista: Mas eu não falei neste instante que estamos ao vivo? E outra: você disse que gosta de rock... Nelson, você é gay?


NH: Não, sou eclético.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Capítulo III)

Leitor, rapaz, leia aqui primeiramente:
Prelúdio, Prefácio, Cap. I, Cap. II


*

Mas não sei por que eu não conseguia pregar o olho. Mal lembrava que horas eram... (Deixe-me conferir no relógio da cozinha... Depois de alguns passos até lá, voltei pra minha máquina de escrever.) Bem, já eram 10h! Devia haver alguma explicação pra isso.


E havia. Olhei de relance para o calendário 1995, atrás de mim, na geladeira. Era dia 13. Era dia 13 de agosto. Era sexta-feira 13 de agosto. Estava explicado. Senti um ar gélido nas minhas entranhas. Toda a minha ossatura se arrepiara só de pensar nesse dia, nesse mês. Não que houvesse acontecido comigo nada de significante especificamente nesse dia, mas, porra, era sexta-feira 13! E em agosto!


Como todos sabem, a tal sexta-feira 13 é tida com o dia do azar. E agosto é um mês de mau agouro. Não sei o porquê disso direito, mas meu pai morreu em agosto; Getúlio Vargas se matou; as bombas estadounidenses atingiram Hiroshima e Nagasaki; e por aí vai.


Tenho paraskevidekatriafobia. Traduzindo pro português, tenho parascavedecatriafobia. Fobia desse dia, em específico. As pessoas dizem que a sexta-13, vinculada ao mês de agosto, teria alguma ligação com as bruxas. Minha casa está sempre suja. Odeio vassouras.


Até no Tarô, o número 13 representa a Morte! Porra, isso me persegue. Há sexta-feira 13 todo ano – pelo menos uma vezinha. Mas eu não queria ter esse medo. Essa crença no azar desse dia maldito começou no século 19 e se intensificou no 20 – pelo menos uma vezinha não deu 13, né?


Na verdade, às 13h daquele dia, algo não muito agradável iria acontecer. E meu medo aumentaria. O pânico tomaria conta de mim. E eu não saberia tomar qualquer decisão séria, usando somente o recurso racional. E não falaria nada inteligível aos ouvidos humanos e sãos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Capítulo II)

Leitor, meu querido, venha aqui primeiro:
Prelúdio, Prefácio, Cap. I


*

Não vou parar de fumar. Ponto. Ponto continuativo. Não consigo. Essa merda é boa demais. Eu como bacon, como ovo, como miojo, como picanha, como gordura à fole, como o que for. Vou morrer pela boca mesmo... Que seja pelo cigarro, pelo menos. Deitei. Pensei na vida. Não tinha nada pra pensar. Nada que valesse a pena. Nada que eu lembrasse que valia a pena. Nada que eu lembrasse que podia valer a pena. Nada que...


Nada que eu pudesse reclamar ainda mais. Fato. Tentei dormir. Me virava de um lado ao outro. Ai, que travesseiro fofinho! Mas nada de eu dormir... Levantei. Fui na geladeira. Peguei a garrafa d’água, despejei tudo na pia. Peguei uma cerveja, despejei tudo na garganta. Ou melhor, “depositei”.


Quando eu bebo, penso demais. Isso é sempre ruim. Ruim pra quem ouve, ou pra que lê. Foda-se. Eu tô em paz comigo mesmo. Mas ainda quero saber o porquê de querer batata frita torrada... nunca gostei de negro. Sou racista. Mas daqueles racistas conscientes, se é que isso existe. Odeio aqueles que se “exilam” num pensamento de reconquista de direitos negros.


A sociedade já é negra. E ela própria já é preconceituosa. Eu só quero a minha batatinha torradinha. Não tem nada de mais nisso. Depois disso, eu posso ir até dormir. Já pensou que sossego?! Que falta faz minha mulher agora. Ela faria a batata frita do jeito que eu não gosto e pronto.

A vida cheira a peidos úmidos (Capítulo I)

Leitor, meu caro, pra entender, de fato, leia antes:

*

Na verdade, era a fumaça de meu cigarro. Mas tinha o mesmo cheiro, sei lá. Vou parar de fumar Camel. Vou parar de fumar. Pronto, parei. Decidi isso, apagando um cigarro que eu havia acendido sem avisar no “Prefácio” aí atrás. De repente, me peguei acendendo outro. Mas era só pra ver se o maldito Halls preto derretia na boca.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Prefácio)

Leitor, meu caro. Pra você entender, leia antes:
Prelúdio

*
Depois do prelúdio vem o prefácio. Ou vice-versa. Ou tanto faz. Certo? Ou nada a ver. Certo. Bem, o que importa é que eu acordei de uma forma que ninguém que eu conheça acordou. Fui com sede até a geladeira. Estava totalmente atordoado. Peguei uma cerveja. Duas. Abri as duas. Bebi as duas. Uma de cada vez, claro.

Eu deveria ter bebido água, alguma coisa, alguma voz, algum sussurro dizia: “Beba água, viado!”. Mas eu achava tão bonitinho... que resolvia não obedecer. Mas não obedeci mesmo. É igual à ordem de esposa. Ninguém cumpre, mas acha fofinho. OK, parou! Eu, na verdade, tava muito puto.

Eu tinha acordado, ora. Eu deveria estar no décimo sétimo sono, senão no décimo oitavo. Resolvi colocar um Halls na boca. Preto. (Curioso, né? Por que o Halls preto é branco?!) Enquanto ele não se desmanchasse na minha boca, eu não tentaria dormir. Engasgar com um drops era a maior bobagem do mundo. Adormeci. Engasguei. Porra!

Fico puto com essas coisas. Ninguém me ajuda. Todo mundo sabe que eu vou me foder.... mas tudo bem! OK, parei. Não vou dar uma de politicamente emocionalmente carentemente correto. Não me venham com essa. Não!

Vou cochilar. Até mais! [...] Tudo bem... Só dessa vez; tô falando sério. Eu quero que minha Carol volte. Nunca mais nós nos amamos. Nunca mais nós fizemos amorzinho gostoso, como ela costuma chamar. Nunca mais eu comi batata frita.

— Quer bem torrada?
— Mais ou menos — disse eu.
— Como assim? — perguntei eu, pra mim mesmo.
— Eu gosto dela marronzinha, a batatinha.
— Foda-se (um foda-se cordial). Lave as panelas, se quiser.
— O que isso tem a ver?! Sou eu que vou fazer isso mesmo... — disse eu, pra mim mesmo, conformado.

Eu gosto de não me intrometer nessas coisas. Esses assuntos comigo mesmo... não têm futuro nunca. Não consigo concordar com isso ou aquilo aqui dentro de mim, às vezes. Por isso, não consigo me sentir em paz. Eu sou homem, ele é meio gay. Fica olhando como o povo se veste. Eu só quero beber; tanto faz se você veste Prada, ou veste prata, ou ainda cinza claro, que dirá de um salmão bebê. De repente, meu peido tinha cor. Era justamente cinza. Cinza-cinza, sem frescura.


[continua]

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Prelúdio)

A vida, sim, cheira a peidos úmidos. Eu cheirava a álcool. Se eu vomitasse no tanque do meu Gol Bola, acho que ficaria uma semana sem pôr gasolina. Fedia. Não a gasolina, nem a vida, mas o cigarro que eu acabara de acender.


Já ficava enjoado do gosto. Mas era bom ao mesmo tempo. Abri uma cerveja. A geladeira estava cheia delas. Minha mulher acorda, me perguntando onde eu andava a noite toda. Quem mulher pensa que é pra sair perguntando?


— Acordei agora, amor — disse eu.

— Esse cheiro de Halls preto no ar me diz algo.

— Que é o meu último. Nem me peça.

— Não me venha com essa...

— Tá bom. Tome um. Só dessa vez.

— Cínico! Você tá com bafo de cachaça... e passou a noite toda perambulando nos bares, não foi?

— Epa! Nada de cachaça. Isso é uísque com cerveja. Misturei por acaso. Não era minha intenção. E outra: eu tava num bar só a porra da noite toda — reverberei eu.

— Darrel, Darrel. Você não tem jeito — disse ela, fazendo cara de esposa que fala o sobrenome do marido.

— Homi, vá deitar. Você ainda tá com remela na cara, pelamorideus — sugeri. À propósito, não vou dizer meu primeiro nome. Não vou. Não gosto dele.

— Anselmo, vá se foder! — sugeriu também, Carol, minha mulher. — E me dá um gole dessa cerveja logo...


Quem mulher pensa que é pra sair mandando? Fico puto. A vida cheira a peido. Dessa vez, não úmido, afinal, esse saiu trovejante. Só que o cheiro era de quem tinha muito tira-gosto na barriga pra colocar no trono. Minha mulher me xingou de qualquer coisa e saiu com a mão no nariz. Quem mulher pensa que é pra sair reclamando? Foda.


Não é à toa que meu pai me aconselhava a nunca casar. Me lembro como ontem: “Meu filho, não case”. Saibas palavras. E ainda concluía: “Tô na merda, você sabe”. Eu sabia. Minha mãe era uma velha morta. Dona-de-casa simples. Não gostava de sair, tampouco de festas. Meu pai ia era raparigar. E com todo o direito. Sempre ouvi dele que o que não se acha em casa, pode-se encontrar na calada da noite. Algo assim.


Eu não. Meu negócio não era esse. Até porque Carol era um absurdo na cama. Parece que sabia o Kama Sutra de cor; coisa instintiva mesmo. Fizemos do “Chão de estrelas” até a “Cadeira de balanço”. Ah, não sei os nomes das posições. Mas sou bom nisso, apesar dos meus 31 anos já atrapalharem na flexibilidade. Meu joelho ainda tava uma maravilha.


Carol era bancária e acordava sempre cedinho. Eu, digamos, estava descansando no momento. Sabe como é, né? Muito estresse. Boas férias estas. Era terça-feira. Eu tava me tornando um alcoólatra. Ninguém precisa mais de professor de Literatura nas escolas. Isso o que eu era; um desnecessário.


Os alunos, sempre metidos a espertos, pesquisavam tudo na internet. Os resumos dos livros, tudo. Que bela merda! Mas eu tinha sido expulso, porque tinha chegado pela terceira vez de ressaca pra dar aula. Mentira, certo... Eu cheguei bêbado. Mas só foi uma vez. Juro!


Minha mulher saiu pro trabalho. Me deu um beijo na bochecha, antes de mais nada. Deixou ovo frito na panela. Eu não gostava muito. Já tinha ficado enjoado com o gosto. Mas era bom ao mesmo tempo. Não sei, talvez porque essa é a “comida” do solteiro. Bem, eu tava casado há dois anos. É, cometi esse erro. Mas Carol tinha seus floridos 24 anos e valia a pena estar com ela. Já falei dela na cama?


Pois bem. Tá na minha hora, leitor. Vou dar um cochilo agora. Porque realmente vai ser só um cochilo. Passei coisa de 29 horas acordado... pra acordar do jeito que acordarei.... acordado de um jeito que ninguém acorda... A corda vai se partir logo. Não tem nó que dê jeito.



quinta-feira, 24 de junho de 2010

O e-mail

De: Carlysson Almeida da Silva [carlmax@gmail.com]
Data: 21 de junho de 2010 15:40
Assunto: não delete amor
Para: "Dorinhaa" [isadora.alencar1@uol.com.br]

*isaa, antigamente o povo tinha mania de mandar carta de amor né
*beeem, eu resolvi mandar um email, rsrsrs
*mas o papo aqui eh sério, veja:
*qro q fiq calada.
*q pegue o travesseiro e coloque na altura da boca. pare de chorar (eu sei q vc ainda vai ta chorando qnd ler isso)
*faca isso pra nao acordar sua mãe.
*eu serei breve, preciso dormir. sei q vou demorar na cama pra conseguir dormirr
*eu juro q tudo oq eu qria era estar aí pra te acalmar
*e dizer no olho a olho que pode contar cmg pq eu nao vou te deixar
*q fiq calma, pq eu estava aí
*q 'tudo bem, já passou. deve ter sido um mal entendido como a maioria de nossas brigas'
*q por favor, entenda o meu lado. eu com certeza sei como vc tá se sentindo.
*a putinha da história... eu diria que vc é meu anjo. q me guarda e me governa, isso tudo no seu ouvido...
*vc é o motivo de eu viajar todo fds. todo mundo sabe disso. meus pais sabem disso. e reclamam por atenção. ou eu minto? ou minha mãe acha q sou um monstro e nao a amo?
*meus amigos eu vejo por consequência.
*e eles não são tão maus assim. vc tá puta com eles agora, tudo bem, nao precisa concordar.
*mas eles me veem como um líder. o pai do diogo falou isso uma vez. "seus amigos sempre farão de tudo por vc. eles têm um zelo muito grande. vão brigar com todos. e sempre estarão com vc. só vc não percebe isso."
*assim como os seus verdadeiros amigos, Lole, deninho e cátia.
*alex e Cia. só qriam me alertar, afinal vc tava toda saidinha na festa, beba. eles não qrem nos destruir como vc deve estar pensando.
*eu podia ta namorando com a filha de um deles, mas eles sempre q vissem algo estranho, avisariam ao pai. e é isso
*vc vai ficar com raiva por muito tempo. mas um dia vai conversar com o alex e esclarecer isso.
*eu presumo pq vc é uma mulher mudada
*exato. agora vc é uma mulher.
*qnd começamos vc era apenas um pulilo do que se tornou.
*e eu enfrentei a todos - vc nao sabe o qnt eu bati boca com todo mundo
*realmente eu sempre fui muito quieto, bom e atencioso para com vc. e não entendia pq eu nao tinha retorno.
*eu vinha lhe ver sempre. fazia poemas. músicas. namorado q quase ngm pode ter.
*então parei com isso depois de me decepcionar a única vez com vc: por vc ter ficada com outra menina, a clara.
*não pq foi com ela, ou se foi com uma mulher... pq eu era VOCÊ. mas vc não era eu. ainda não totalmente.
*e acho que eu te ganhei por não ter acabado o namoro e pela forma como agi.
*entendi q isso fazia parte da juventude... sei lá
*todos nós temos q provar de tudo, drogas e putaria, ok
*eu aceitei. mas me sentia ofendido qnd vc dizia q não tinha me colocado gaia.
*eu fui sincero sempre. nunca faltei com o respeito, esperei por nossa primeira vez mútua por mais de ano e meio.
*mas nunca esperei q vc FALASSE aquilo.
*me doía muito mesmo. e vc até hj acha assim
*pq eu já tinha aceitado ser corneado, e ia tentar levar um namoro normal com vc. mesmo com todos apontando pra mim e rindo de ladinho pra onde a gnt ia. eu sou detalhista, vc sabe. mas o povo sempre foi discreto. MEUS amigos, q vc tanto fala, sabiam
*mas preferiram não se intrometer.
*TODOS sabiam. menos eu.
*isso tbm me deixou bastante triste.
*no mais, a gnt se vê diante desse episódio. vc indo, beba, pegar carona com um cara q certamente tava conversando com vc e com algum interesse... nao adianta vc dizer que nao era. vc não sabe oq se passava por dentro do rapaz!
*oq eu posso pensar... "porra, isa-beba ia me cornear com o cara"
*é o q tudo indica. mas eu lhe conheço
*liguei pra vc. puto, é claro. muito puto.
*mas nao lhe julguei.........
*nao esfreguei na sua cara
*supondo coisas e tal.
*pois eu tinha a confirmação dos meninos, q só qriam me ajudar.
*eles naõ te odeiam.
*só qrem o meu bem, como eu disse.
*e mesmo q isso vá além da compreensão deles, o meu bem é estar bem com vc. estar bem ao seu lado. estar bem do seu lado
*ehhehehe, a gnt diz que ama demais uma pessoa..
*mas o engraçado eé q pode conhecer outras 200 mil e amar ainda mais.
*por isso o meu perfil no orkut tá lotado... qro conhecer mais ngm nao. qro amar vc pra sempre pow!
*eu tenho q acordar supercedo pra trabalhar na loja e espero ta fazendo esse sacrifício aqui valer a pena.
*pq tudo oq eu faço é por vc vei
*poemas, músicas (mesmo as pesadas), compro presentes, porra
*tudo é pra q vc me note e me veja como alguém bom q faz tudo o q está a seu alcance
*não vou dizer q estou chorando, pq vc choraria mais aí.
*mas pelo menos espero q vc não esteja soluçando ou tremendo.
*q esteja calma.
*por favor....
*q sua dor d cabeça tenha melhorado, pelo menos um tiquinho.
*não sei se tenho esse dom ainda de fazer as coisas melhoraremm
*mas qro q vc saiba (ainda mais), q vc é a mulher da minha vida!
*se não for com vc, eu vou ficar solteiro
*pq eu já cansei das mulheres, q elas se fodam!
*vc é um anjo, o meu anjo, já falei. não é desse planeta.
*qro q meu ponto final seja ainda mais bonito que essse:
*vc se tornou uma mulher, talvez eu tenha criado vc. se vc me decepcionar algum dia, eu vou entender. bem como eu posso ser safado com vc. mas vc é a melhor coisa que eu poderia ter. e é só isso. o resto são jornais velhos jogados fora...
*bjoos, carl :*
*
*
*PS - mesmo com cheiro de cigarro, é a sua boca que vai 'amargar' na minha memória. qro vc assim, do jeito q eh

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Amor

Porra nenhuma! (Gosto com sinceridade de começar as coisas meio que paradoxalmente. Com um título provável desse, o leitor espera algo bonito logo de cara. Bem, espere...) Amor só fode a gente. Ou será que a gente é quem deveria foder com amor?! Tanto faz. No final, tudo é prazer.

Sem querer ser mais chato, o que quero dizer com tudo isso é que a gente tem que amar sem pensar na terminação nervosa que habita o meio de nossas pernas. Só assim algum dia pode-se ser feliz... e eu sou feliz. Se você não é, ame! Pode ser até uma porra de uma hamster, mas ame.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Tempo (ou a falta dele)

É por conta desse tal de tempo que a gente acaba por não cumprir o que deve. Peço desculpas a meus leitores pelo pouco que estou tendo pra escrever por aqui. Falta tempo pra pensar, pra inspiração fluir. Vou tentar fazê-lo engatinhar, pra que numa mimese, eu consiga também voltar a ser criança (e criar mais).

Adeus. Não tenho mais tempo!

sábado, 29 de maio de 2010

Namoro heroico

Todo mundo sabe que o que acaba um relacionamento é a rotina. Pior que isso, só os gostos divergindo. Se o diálogo nem fluir, então...

— Sérgio, entenda: Super-homem é um bosta! A kriptonita pra ele é como os livros pra um flamenguista.

— Ei, rapaz. Mais respeito, por favor! Você tá pensando o quê? Respeite o meu super-herói preferido!

— Sou muito mais o Batman — declarou Lucas. Sua namorada, do lado dos dois, só acompanhava a conversa, enquanto se preparavam para assistir causticamente o filme do Homem de Ferro.

— É. Ele é melhor. Os poderes dele são melhores — lançou Débora. Lucas, com uma cara de "hein?", disse:

— É uma pena que ele não tenha poderes.

— Mas ele não voa?! — E Lucas fez aquela cara de novo. E respondeu, finalmente:

— Ele "plana". Ele não tem poderes. Garanto que você não conhece nem um inimigo dele sequer...

— O Robin — disse ela, segura de si. Sérgio teve que se meter na briguinha de casal.

— O Robin é do bem, minha filha!

— Ah, é mesmo... Ele ajuda os pobres — inferiu Débora, com um ar ladino.

— Como é, rapaz?! — exclamaram os dois, em coro. Sérgio foi o primeiro a voltar à realidade:

— Esse daí é o Robin Hood. O outro é o parceiro dele. Só isso.

— Mas o Homem de Ferro é melhor que o Batman. Tem mais dinheiro! E o Homem-aranha é mais legal. E o...

— Melhor ficar calada agora, porque o nosso namoro pode acabar... e vai começar o filme! — concluiu o namorado, em desalento.


Débora sempre gostou dos gibis da Turma da Mônica. A verdade era essa.


terça-feira, 25 de maio de 2010

Pronto! Piada pronta

Diga não ao aborto! Casamento gay já!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Riqueza

— Eu tenho namorada!

— Eu sei.

— Nunca trocaria ela por você.

— Eu sei.

— Por que você foi morar longe e me deixou aqui, só?

— Eu sei. Digo, não sei.

— Sabe sim...

— Mas você tem namorada, como mesmo disse — disse ela.

— Mas não sabia que seria assim. Pensei que seria mais fácil — pensou ele, em voz alta.

— Tenho os estudos em primeiro lugar. Quando eu te quis, você já estava ocupado.

— Eu não tinha culpa... Entenda. Eu te queria, só que tinha medo. Não sei.

— Esse “não sei” vai te custar a vida toda.

— Não seja metida — disse ele.

— Eu não sou. O meu amor por você vai além dos limiares do desejo!

— Não gosto de amor platônico — revelou ele, seco.

— Não perguntei. Eu disse que gosto de você. Se quiser me esperar, bem. Se não, bem também.

— O que mulher não faz hoje em dia, né? — divagou ele, muito sorridente.

— Te amo!

— Eu também — afirmou ele, mudando a convenção de que o homem sempre diz “eu te amo” primeiro.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Flamengo x Corinthians

O brasileiro é um povo curioso, intrigante por natureza. E o futebol está intrínseco nela. De oitiva, um flamenguista estava conversando sobre o jogo da Copa Libertadores, que desclassificou o time alvinegro.

— O seu time só é campeão desse torneio no video game.
— Certo — disse, muito seriamente, o corintiano.
— De todos os torcedores do Brasil, só vocês não xingam nem o juiz nem a mãe dele. Isso eu admiro em todos os corintianos! — exclamou o flamenguista.
— Oh! E por quê? — perguntou ele, pouco interessado, fazendo careta.
— Vocês se referem a ele assim: 'Não, Meretíssimo, eu sou inocente!' — e soltou uma gargalhada insuportável.
— Também tenho uma piada do seu time.
— Qual? — perguntou o rubronegro, agora sem graça.
— Adriano e Vagner Love.
— E a piada?
— Eles são a piada!
— Não tô rindo.
— Eis o império do mé...
— Não tô rindo...
— Então deu empate. Eu também não ri. Vamos jogar video game?!

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pronto! Piada pronta

Os padres de Arapiraca agora só estão celebrando missa no período noturno. Afinal, a noite é um coroinha...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Então...

— É brincadeira...

— O quê?!

— Todo mundo indo pro show e eu vou ter que ficar em casa, porque a namorada não vai. É fogo... — lamenta João.

— Ora, acabe esse seu namoro então!

— Não é uma boa ideia.

— Por que não?

— Porque não.

— Por que não?!

— Por que não.

— Por que o chororô então?

— Todo mundo indo pro show e eu vou ter que ficar em casa, porque a namorada não vai — repete o pobre João, com a voz lacrimejando.

— De novo isso? Então acabe logo essa porra de namoro! Daí, vamos sacar dinheiro no banco, pegar um busão pra João Pessoa e alugar um carro lá. Ainda dá tempo de encontrar com o pessoal... — sugeriu Betinho, o alcoviteiro.

— Então... É só assim?! É fácil pra você, né?

— O quê?! Acabar o namoro?

— Não. Arrumar dinheiro pra alugar o carro! Tô liso, meu filho!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pedofolia

Idade das Trevas. Eis um período intrigante de nossa História que não poderemos apagar dos livros. Apagadas foram as fogueiras com o banho de água fria dos iluministas. E ainda bem que Nietzsche e seus aforismos não tinham nascido, senão a fogueira consumiria o calor de seus escritos e de sua ousadia autêntica.

Em seu livro O Anticristo, Nietzsche acusa a Igreja Católica de ser falaz e de hipócrita. De fato. A Idade das Trevas claramente foi uma época em que as indulgências eram a moeda e a certeza de um lugar no céu — mesmo se fossem poucos metros quadrados. A personagem protagonista dessa história é Martinho Lutero. Suas 95 teses pregadas na igreja de Wittenberg eram a prova de que algo estava errado.

Com o advento da comunicação impressa, graças a Gutemberg, Lutero foi capaz de espalhar sua ideologia por toda a Alemanha, no qual mostrava a verdadeira face da Igreja Católica. A população na época não tinha acesso a livros (só os nobres eram alfabetizados); é bem verdade que a Igreja “guardava” os livros para controlar os pensamentos do senso comum — o Índex que o diga.

Sem mais delongas, não dava pra guardar mais um segredo desses: pedofilia. Isso existe em todo canto, certo. Mas a Igreja, como instituição responsável pela vida e pela alma de milhares de fiéis convictos e cientes da santidade dos padres, que por sua vez tratam-se de uma espécie de ponte entre Deus e os homens comuns-mortais-pecadores, não pode, não pode, não poderá levar em frente o celibato.

A questão também envolve esse tópico. O homem é instinto. É animal puro. Não se pode tirar o desejo de dentro desses padres, gente! Padre casado já! Ele dará conta da Igreja e da sua casa, sem dúvidas. A Igreja parece que ainda vive na Idade das Trevas — viu aí leitor que o começo tinha sentido?

Homossexualismo: isso sim é que teria de ser discutido. Em Arapiraca, com o escândalo de pedofolia que ganhou notoriedade a nível internacional, a coisa ficou feia. Monsenhores Luiz Marques e Raimundo e padre Edílson foram desmascarados. Ser gay é normal. Mas não para o catolicismo, a raça ariana das religiões.

Intrigante mesmo é ver os fiéis aprendendo posições novas com os padres. Dona Deise, com seus mais de 80 anos, viu o vídeo de monsenhor Luiz Marques fazendo sexo com um ex-coroinha. Um 69 lateral. Só assim ela acreditou.

— Tá vendo agora, mamãe, o que é sexo oral?!
— E é isso, é? — perguntou ela, ingênua. — Pensei que esse sexo era na “hora” que o marido quisesse — disse ela, apontando para o relógio do punho esquerdo.

Então sexo anal seria “de ano em ano”? Não sei. Só sei que o vídeo não é montagem.
— É montagem, sim!
— Ora, montagem... só se for um montando no outro e falando: “Pega aqui no meu ‘baixo clero’, vem!”.

Mas os padres negam: “Eu nunca dei, não dou, não darei e nunca mais vou dar de novo”. Que bom! Sinal de que os tempos avançam e Igreja continua sendo honesta. E colocando a boca onde não é chamada.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Um caso insolúvel

Quando se fala em detetive, já se vem à mente figuras memoráveis como o impressionante Sherlock Holmes, de Sir Doyle, o inspetor Dupin, de Poe, o comissário Maigret, de Simenon, o simples Philip Marlowe, de Raymond Chandler, e o imoral e tarado Nick Belane, de Bukowski. Este nosso aspirante a detetive, na verdade, nossa, a jovem Anali Rolin, era tão detalhista e simpática quanto os anteriores.


Ela entrou para a carreira policial a contragosto dos pais. Jorge Rolin era um advogado renomado na pequena cidade de Passos, no interior de São Diogo. Queria que a filha colocasse os bandidos na cadeia do mesmo jeito que ele e não desta forma. Não suportava o fato de Anali ser uma mulher feita e tomar decisões. O machismo já não cabe mais nesses tempos.


Digamos que ela era uma espécie de estagiária-detetive. Só após resolver seu primeiro crime na prática é que seria chamada para trabalhar, de fato, na empresa Casos & Casos. Evidentemente, ela teria acompanhamento de seu superior: o comissário Cunha. Em seu currículo, um vasto repertório de serial killers e padres pedófilos pegos.


— Anali, tenho um caso pra você. Quem sabe, o primeiro de muitos — disse o comissário.

— Tomara, senhor. Eu já estava cansada de ir ao Instituto Médico Legal esperar os corpos e acompanhar a perícia. No mais, sempre perguntava o porquê das avaliações feitas e aprendi muita coisa. Pelo menos, o suficiente.

— Que bom! É sinal de que você amadureceu muito nesses seis meses conosco. A Anali que eu conheci era uma menina sem chão; hoje, vejo que você sabe bem aonde quer chegar.

— Quero trabalhar para o senhor — completou ela, secamente.

— Querida, você pode trabalhar comigo, quanto mais para mim — riu.


Anali pegou os papéis que estavam beirando a mesa e deu uma rápida olhadela no caso. E arrotou um “esse é fácil!”. Cunha ficou encantado com a frieza dela. Era de admirar que uma moça, com trejeitos de menina da cidade grande e rosto de maçã recém-colhida, fosse levar tão naturalmente a morte de dois irmãos gêmeos, enterrados no quintal de casa.


Eles foram à casa dos tais gêmeos na mesma hora. A mãe estava chorando na cozinha, tomando um copo d’água dado por um dos homens do Cunha. Ela soluçava que o marido tinha fugido depois do incidente. Depois disse que ele, antes de partir, cavou o chão do quintal pra simbolicamente enterrar os filhos desaparecidos há três semanas.


— Meu marido... ele comprou dois... caixões bem pequeni...ninos, porque a gente não... tinha notícias dos nossos bebês. Eu nunca... perdi minhas esperanças de eles estarem vivos. Mas... meu marido enlouqueceu — afirmou.


Cunha olhou pra Anali, concentrada no depoimento da pobre mãe. Quando ele tirou os olhos dela, foi sua vez de olhar para o comissário. Ele também desconfiava de algo muito estranho. O casal era novo na cidade e tinha acabado de se tornar pais. Ela o chamou para o canto.


— Não sei, mas mulher tem instinto, sabe?! Acho que já sei quem matou as crianças. Só preciso ver a disposição dos corpos. Vamos lá no quintal!

— Você na frente — inferiu Cunha, impressionado com a sagacidade de sua futura detetive.


[Continua]

domingo, 18 de abril de 2010

As sem-razões do amor


Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.

Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Os amantes

Tudo combinado. Tudo acertado. Tudo nos conformes. Às 15h, no Motel Doce Clitóris. Não tem erro... É ali pertinho do supermercado. E foi por conta deste detalhe, que a sagaz Bárbara combinou de ir ao tal motel com Ricardo, no qual intrinsecamente já tem nome de amante.


No entanto, ele não poderia ser um “Ricardão” legítimo, afinal, não era corpulento. Tinha uns braços notáveis aqui, umas pernas bem torneadas ali, mas nada passando dos 1,68m de estatura. Ricardo era um marido fiel — quando estava com a mulher — e um pai responsável.


“Painho, fiz uma prova de inglês esselente”, disse seu filho, Bruninho, pelo MSN. O pai, sempre atento, perguntou do computador do escritório de advocacia: “Que bom, meu filho! E a de português?”.


Já Bárbara era uma mulher solteira. Mulher independente. Mulher pós-moderna. Mulher “guerreira”, de fato. Seu affair mais empolgante era Ricardo. Mas existem coisas que os homens detestam: uma que eu lembro agora é frescura. Esse era o motivo pelo qual Ricardo não trocava a esposa, Karolina, por ela.


Bárbara era do tipo que vive em show de pagode e de axé, apesar de sua já avançada idade (32 anos na cara e 25 de corpo). Deixe-me deixar claro, leitor-que-lê: ela era daquelas que tinham uma simples cólica e ia ao médico, veja só você! O médico advertia: “Você não pode ingerir nenhuma comida carregada, a exemplo de lasanha, feijoada, buchada e lingüiça/calabresa”.


É verdade... Houve até uma vez que Ricardo chegou com um salgadinho de presunto na mão, oferecendo a ela e Bárbara: “Não, tô com cólica!”. Ricardo só balançava a cabeça e não entendia o porquê daquilo, justamente porque não havia sentido. “Esses salgadinhos são de milho, ora”, pensava ele. Mas deixa pra lá.


Voltando para o início do texto, já estava até esquecido. O Motel Doce Clitóris ficava do lado do supermercado Hiper Bompreço perto do trabalho dos dois. Ele desligou o telefone do escritório e foi direto para o supermercado. Isso mesmo. Os dois deixavam ambos os carros lá pra que, se algum conhecido os visse, dissessem que estavam apenas fazendo algumas comprinhas.


Tática infalível. O carro no estacionamento do Hiper seria o álibi perfeito. Se encontraram no motel. Do supermercado, pegaram táxis separados e entraram no paraíso. Chega até a ser jocoso o modo como eles encaravam tudo isso. “Cheguei primeiro!”, ria Bárbara.


— Quero tomar banho de banheira com você hoje! — exclamou ela.

— Na verdade, temo que este seja nosso último “passeio” juntos. Quero me dedicar à família e ao trabalho. Vivo sempre cansado...

— Ok — inferiu Bárbara, num tom de indiferença que chegou a surpreender Ricardo.


No banheiro, os dois devidamente desnudos, brindam uma taça da champagne da casa. Bárbara acende um cigarro e entra na cheirosa água espumada. Ricardo, ainda em pé e fora da banheira, vem logo em seguida. Mas em um movimento impulsivo, a amante joga a taça na altura do púbis do rapaz.


É quase um pecado jogar fora um Heidsieck & Co Monopole, feito na França. Digo isso não somente porque ele tem 200ml, mas pelo sabor bem equilibrado que uvas Chardonnay e Pinot Noir dão ao espumante. Ele deve ser servido a uma temperatura de 6ºC, contudo, neste instante, o púbis de Ricardo estava pegando fogo.


Bárbara jogara o cigarro em cima dele nos 12% de teor alcoólico, que agora jaziam no pênis de Ricardo, e o empurrou no chão. Ela saiu do quarto de motel em menos de 10 segundos. Esse foi o tempo de ele se levantar rapidamente e se aliviar na banheira. “Ahhhhh!”, suspirou ele, pegando os 100ml restantes de sua taça.


Deu um trago só. E disse em alto e bom sopro: “Eu mereci!”, analisando seu filho ruborizado e perguntou: “Tudo bem aí embaixo?!”. Ainda finalizou com uma piadinha: “É, o Doce Clitóris agora tá com cheiro de pentelho queimado” e foi se vestir para voltar ao supermercado e pro trabalho.

terça-feira, 23 de março de 2010

As cantadas

Há cantadas que dão certo como as do Alex e do Arlindo. Calma! Logo, logo você vai entender. Mas às vezes não tem como: a guria não quer sair/ficar/”brincar”/beber/jogar Guitar Hero contigo e você tem que sair por cima, embora leve um fora traumático. A priori, o Alex. Criaremos um personagem: Tiago. Tiago não; Thiago... Agora sim! Thiago com agá, feliz da vida, com o xaveco na ponta da língua (e a vontade de usá-la), chega a seu flerte e:

- Oi, Jennyfer (leia-se Djenifer)! Tudo tranquilo? Você deu uma encorpada, hem? Pensei em ti esses dias...
- Tudo bem. Foi mesmo? E por quê?
- Por nada. Acho que eu sonhei contigo. Por isso você tá com as coxas mais grossas... de tanto correr de mim nos sonhos.
- Ai, para – murmurou ela, ruborizando.
- É sério. Eu posso até te fazer esquecer o Alex.
- Alex?
- Sim, o Alex!
- Que Alex?!
- Tá vendo... Você já esqueceu.

E é só correr pro abraço... e pro beijo. É bem verdade que esta “cantada do Alex” pode muito bem ter outro nome. Mas Thiago com agá prefere assim. E ainda arrisca a do Arlindo:

- Oi, tudo certinho? Te vi de longe, sozinha, aqui nesse show perigoso da Ivete Sangalo, e te achei linda. E não pense que vou usar a cantada-cafajeste do “vou te comer!”, não... Meu nome é Arlindo. Mas pode me chamar somente de lindo, porque o ar eu já perdi quando te avistei.

Pois bem, é... é difícil saber o que dizer numa hora dessas. Melhor beijar logo, porque o cara mereceu. Foi ou num foi?! Foi. Lógico. Evidente. O chato é quando Thiago com agá tem de chamar alguém pra ir ao cinema. Às vezes, a gente quer dar uma de cavalheiro e tal... pagar a entrada da nossa paquera. Mas há menina que não merece um M&M’s, nem um grãozinho de milho pré-pipocado. E nessas horas, Thiago com agá sabe sair ileso.

- Vamos assistir a um filminho... hoje?! – pergunta ele, inocente.
- Você só quer ir hoje, porque hoje é quarta e quarta-feira é mais barato... Euzinha aqui só saio com quem tem cacife, mô bem!
- É você quem sabe... quer ir final de semana, vamos! É você quem vai pagar o seu mesmo.

Palmas. Não haveria melhor saída! Mas teve uma vez que Thiago com agá acabou levando a pior. Foi chamar uma china pra curtir a vibe, mas...
- E aí, vamo curtir uma vibe?
- Por que você tá falando assim? A gente tá numa rave, mas não precisa falar como um idiota – arremessou a garota. Nessas horas, ele pensava em Jennyfer (leia-se como lá em cima).
- Não, é que esse pessoal é bem descolado. Pensei que você fosse dessa tribo loca – disse ele, gesticulando.
- Tá muito barulho e eu tô muito doida. (De extasy. Sim, ela era da vibe, era da tribo, era má.) Põe nesse guardanapo o teu MSN que eu te add. OK, lindinho? E depois sai daqui...

Thiago com agá fez “o que lhe foi ordenado”. Achou estranho. Achou excitante. E é dessas mulheres que os homens têm fetiche. É dessas mulheres que os homens têm medo. É por conta dessas mulheres que o autor que vos fala tem a certeza de que o mundo sem elas seria habitável. E sem graça. Mas graça mesmo achou Thiago com agá quando viu a janela para a aceitação do usuário luciana_htona23@hotmail.com. “Pronto”, pensou ele. “Tá no papo!”. Depois de muitas investidas, o nosso galanteador se abusa.

Thiago (B) diz:
Ah, luh.. eu qria saber mais sobre vc. a gnt mal cunversou na rave, mais parece q vc nao quer contribuir... :/

Luhhh (L) ObRiGaDa, MeU dEuS!!!! diz:
Meu fio, digae oq vc qr sabeah de mim, hihi

Thiago (B) diz:
Sei lá, eu tinha q descobrir coisas que vc gosta de fazer, pra onde vc custuma i, os lugares, essas cosas :D derrepente a gnt saia pra algum canto juntos, so nois dois.. doq tu gosta?

Luhhh (L) ObRiGaDa, MeU dEuS!!!! diz:
Gosto de fika em casa mesmoo..

Aí não tem jeito... Luciana era dessas gurias que apertam no comando de “chamar a atenção” no MSN só pra dizer que por onde passam, chamam atenção. Ele desistiu dela de primeira. A solução foi Thiago com agá procurar outros cabelos para acariciar, mas não antes de se armar no Google, digitando "cantadas".

sexta-feira, 19 de março de 2010

É show!

– Vambora pro show da Maria Gadú?
– Como é, rapaz? Maracatu?! Tá horrível o sinal dessa operadora. Meu celular também tá muito velho... a ligação tá cortando – explicou Michel.
– Sim, Maria Gadú. É muito bacana! Você nunca ouviu? – perguntou Filipe.
– Claro que já escutei maracatu, meu amigo! – disse ele, um tanto ofendido. – Pena que Chico Science morreu... Gosto muito da mistura que eles fazem com o rock.
– É... – disse Filipe, sem entender direito. – Então vamos marcar: 21h em frente à pizzaria Arrivederte. Ok?

Tudo combinado, tudo acertado. Como você (vá me perdoando logo pelo termo coloquial) já deve ter percebido, houve uma pequena falha de comunicação. Mas nada que impeça de a noite ser aprazível. Espero...

Chegando lá:
– Que porra é essa? – perguntou Michel, ao som da voz marcante de Maria Gadú e seu Shimbalaiê a postos. – Você quer que eu fique aqui tomando refrigerante? Você sabe que tenho diabetes. E eu só penso em tomar uma Fanta ouvindo uma música desse naipe...
– Calma, Michel, ora! Essa é Maria Gadú: o fenômeno da nova MPB. Eu disse pra você que era ela que ia tocar de graça aqui na praça – esclareceu para o amigo.
– Grandes coisas. Pena que entendi errado. Entendi “Maracatu”. Você fala todo errado... devia fazer um curso de dicção! – zombou ele.
– Que nada de Maria Gadú. Eu falei maracatu – confundiu-se.
– Tá vendo? De novo.
– Você quem devia limpar essas orelhas. Eu falei certo; tu tá entendendo tudo errado.
– Quer saber, vou ver se nesse apinhado de homossexuais tem alguma mulher que valha a pena... Que valha a pena não, qualquer uma! – disse ele, revoltado gesticulando com o dedo indicador direito pra cima.

Logo se aproxima a primeira vítima. E última.
– Olá, senhorita. Percebi que você é uma das poucas heteros nesse show “super bacana”.
– Eu nem gosto de Maria Gadú – emendou ela, rindo. – Na verdade, só vim pra espairecer e porque é de graça. Eu, Maria Rita, e minha prima Dulcinha. Prazer.
– Ah, tá explicado porque você não gosta. Maria Rita tem de gostar de... Maria Rita – disse ele, brincando. – Meu nome é Michel.
– Rapaz, pior que é mesmo – riu a moça.

Apesar da boa investida no começo e das boas risadas, conversa vai, conversa vem e nada. Ele tentou beijá-la duas, três vezes e... nada. Enfim, Michel se exalta, agoniado:
– Ó, vou ser franco. Tenho diabetes e você tá fazendo cu doce. Não rola. – E saiu puto da vida. Ele chegou até Filipe e disse: “Vambora pro show do Parangolé?”