sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Capítulo II)

Leitor, meu querido, venha aqui primeiro:
Prelúdio, Prefácio, Cap. I


*

Não vou parar de fumar. Ponto. Ponto continuativo. Não consigo. Essa merda é boa demais. Eu como bacon, como ovo, como miojo, como picanha, como gordura à fole, como o que for. Vou morrer pela boca mesmo... Que seja pelo cigarro, pelo menos. Deitei. Pensei na vida. Não tinha nada pra pensar. Nada que valesse a pena. Nada que eu lembrasse que valia a pena. Nada que eu lembrasse que podia valer a pena. Nada que...


Nada que eu pudesse reclamar ainda mais. Fato. Tentei dormir. Me virava de um lado ao outro. Ai, que travesseiro fofinho! Mas nada de eu dormir... Levantei. Fui na geladeira. Peguei a garrafa d’água, despejei tudo na pia. Peguei uma cerveja, despejei tudo na garganta. Ou melhor, “depositei”.


Quando eu bebo, penso demais. Isso é sempre ruim. Ruim pra quem ouve, ou pra que lê. Foda-se. Eu tô em paz comigo mesmo. Mas ainda quero saber o porquê de querer batata frita torrada... nunca gostei de negro. Sou racista. Mas daqueles racistas conscientes, se é que isso existe. Odeio aqueles que se “exilam” num pensamento de reconquista de direitos negros.


A sociedade já é negra. E ela própria já é preconceituosa. Eu só quero a minha batatinha torradinha. Não tem nada de mais nisso. Depois disso, eu posso ir até dormir. Já pensou que sossego?! Que falta faz minha mulher agora. Ela faria a batata frita do jeito que eu não gosto e pronto.

A vida cheira a peidos úmidos (Capítulo I)

Leitor, meu caro, pra entender, de fato, leia antes:

*

Na verdade, era a fumaça de meu cigarro. Mas tinha o mesmo cheiro, sei lá. Vou parar de fumar Camel. Vou parar de fumar. Pronto, parei. Decidi isso, apagando um cigarro que eu havia acendido sem avisar no “Prefácio” aí atrás. De repente, me peguei acendendo outro. Mas era só pra ver se o maldito Halls preto derretia na boca.