segunda-feira, 19 de julho de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Prefácio)

Leitor, meu caro. Pra você entender, leia antes:
Prelúdio

*
Depois do prelúdio vem o prefácio. Ou vice-versa. Ou tanto faz. Certo? Ou nada a ver. Certo. Bem, o que importa é que eu acordei de uma forma que ninguém que eu conheça acordou. Fui com sede até a geladeira. Estava totalmente atordoado. Peguei uma cerveja. Duas. Abri as duas. Bebi as duas. Uma de cada vez, claro.

Eu deveria ter bebido água, alguma coisa, alguma voz, algum sussurro dizia: “Beba água, viado!”. Mas eu achava tão bonitinho... que resolvia não obedecer. Mas não obedeci mesmo. É igual à ordem de esposa. Ninguém cumpre, mas acha fofinho. OK, parou! Eu, na verdade, tava muito puto.

Eu tinha acordado, ora. Eu deveria estar no décimo sétimo sono, senão no décimo oitavo. Resolvi colocar um Halls na boca. Preto. (Curioso, né? Por que o Halls preto é branco?!) Enquanto ele não se desmanchasse na minha boca, eu não tentaria dormir. Engasgar com um drops era a maior bobagem do mundo. Adormeci. Engasguei. Porra!

Fico puto com essas coisas. Ninguém me ajuda. Todo mundo sabe que eu vou me foder.... mas tudo bem! OK, parei. Não vou dar uma de politicamente emocionalmente carentemente correto. Não me venham com essa. Não!

Vou cochilar. Até mais! [...] Tudo bem... Só dessa vez; tô falando sério. Eu quero que minha Carol volte. Nunca mais nós nos amamos. Nunca mais nós fizemos amorzinho gostoso, como ela costuma chamar. Nunca mais eu comi batata frita.

— Quer bem torrada?
— Mais ou menos — disse eu.
— Como assim? — perguntei eu, pra mim mesmo.
— Eu gosto dela marronzinha, a batatinha.
— Foda-se (um foda-se cordial). Lave as panelas, se quiser.
— O que isso tem a ver?! Sou eu que vou fazer isso mesmo... — disse eu, pra mim mesmo, conformado.

Eu gosto de não me intrometer nessas coisas. Esses assuntos comigo mesmo... não têm futuro nunca. Não consigo concordar com isso ou aquilo aqui dentro de mim, às vezes. Por isso, não consigo me sentir em paz. Eu sou homem, ele é meio gay. Fica olhando como o povo se veste. Eu só quero beber; tanto faz se você veste Prada, ou veste prata, ou ainda cinza claro, que dirá de um salmão bebê. De repente, meu peido tinha cor. Era justamente cinza. Cinza-cinza, sem frescura.


[continua]

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A vida cheira a peidos úmidos (Prelúdio)

A vida, sim, cheira a peidos úmidos. Eu cheirava a álcool. Se eu vomitasse no tanque do meu Gol Bola, acho que ficaria uma semana sem pôr gasolina. Fedia. Não a gasolina, nem a vida, mas o cigarro que eu acabara de acender.


Já ficava enjoado do gosto. Mas era bom ao mesmo tempo. Abri uma cerveja. A geladeira estava cheia delas. Minha mulher acorda, me perguntando onde eu andava a noite toda. Quem mulher pensa que é pra sair perguntando?


— Acordei agora, amor — disse eu.

— Esse cheiro de Halls preto no ar me diz algo.

— Que é o meu último. Nem me peça.

— Não me venha com essa...

— Tá bom. Tome um. Só dessa vez.

— Cínico! Você tá com bafo de cachaça... e passou a noite toda perambulando nos bares, não foi?

— Epa! Nada de cachaça. Isso é uísque com cerveja. Misturei por acaso. Não era minha intenção. E outra: eu tava num bar só a porra da noite toda — reverberei eu.

— Darrel, Darrel. Você não tem jeito — disse ela, fazendo cara de esposa que fala o sobrenome do marido.

— Homi, vá deitar. Você ainda tá com remela na cara, pelamorideus — sugeri. À propósito, não vou dizer meu primeiro nome. Não vou. Não gosto dele.

— Anselmo, vá se foder! — sugeriu também, Carol, minha mulher. — E me dá um gole dessa cerveja logo...


Quem mulher pensa que é pra sair mandando? Fico puto. A vida cheira a peido. Dessa vez, não úmido, afinal, esse saiu trovejante. Só que o cheiro era de quem tinha muito tira-gosto na barriga pra colocar no trono. Minha mulher me xingou de qualquer coisa e saiu com a mão no nariz. Quem mulher pensa que é pra sair reclamando? Foda.


Não é à toa que meu pai me aconselhava a nunca casar. Me lembro como ontem: “Meu filho, não case”. Saibas palavras. E ainda concluía: “Tô na merda, você sabe”. Eu sabia. Minha mãe era uma velha morta. Dona-de-casa simples. Não gostava de sair, tampouco de festas. Meu pai ia era raparigar. E com todo o direito. Sempre ouvi dele que o que não se acha em casa, pode-se encontrar na calada da noite. Algo assim.


Eu não. Meu negócio não era esse. Até porque Carol era um absurdo na cama. Parece que sabia o Kama Sutra de cor; coisa instintiva mesmo. Fizemos do “Chão de estrelas” até a “Cadeira de balanço”. Ah, não sei os nomes das posições. Mas sou bom nisso, apesar dos meus 31 anos já atrapalharem na flexibilidade. Meu joelho ainda tava uma maravilha.


Carol era bancária e acordava sempre cedinho. Eu, digamos, estava descansando no momento. Sabe como é, né? Muito estresse. Boas férias estas. Era terça-feira. Eu tava me tornando um alcoólatra. Ninguém precisa mais de professor de Literatura nas escolas. Isso o que eu era; um desnecessário.


Os alunos, sempre metidos a espertos, pesquisavam tudo na internet. Os resumos dos livros, tudo. Que bela merda! Mas eu tinha sido expulso, porque tinha chegado pela terceira vez de ressaca pra dar aula. Mentira, certo... Eu cheguei bêbado. Mas só foi uma vez. Juro!


Minha mulher saiu pro trabalho. Me deu um beijo na bochecha, antes de mais nada. Deixou ovo frito na panela. Eu não gostava muito. Já tinha ficado enjoado com o gosto. Mas era bom ao mesmo tempo. Não sei, talvez porque essa é a “comida” do solteiro. Bem, eu tava casado há dois anos. É, cometi esse erro. Mas Carol tinha seus floridos 24 anos e valia a pena estar com ela. Já falei dela na cama?


Pois bem. Tá na minha hora, leitor. Vou dar um cochilo agora. Porque realmente vai ser só um cochilo. Passei coisa de 29 horas acordado... pra acordar do jeito que acordarei.... acordado de um jeito que ninguém acorda... A corda vai se partir logo. Não tem nó que dê jeito.