quinta-feira, 22 de abril de 2010

Um caso insolúvel

Quando se fala em detetive, já se vem à mente figuras memoráveis como o impressionante Sherlock Holmes, de Sir Doyle, o inspetor Dupin, de Poe, o comissário Maigret, de Simenon, o simples Philip Marlowe, de Raymond Chandler, e o imoral e tarado Nick Belane, de Bukowski. Este nosso aspirante a detetive, na verdade, nossa, a jovem Anali Rolin, era tão detalhista e simpática quanto os anteriores.


Ela entrou para a carreira policial a contragosto dos pais. Jorge Rolin era um advogado renomado na pequena cidade de Passos, no interior de São Diogo. Queria que a filha colocasse os bandidos na cadeia do mesmo jeito que ele e não desta forma. Não suportava o fato de Anali ser uma mulher feita e tomar decisões. O machismo já não cabe mais nesses tempos.


Digamos que ela era uma espécie de estagiária-detetive. Só após resolver seu primeiro crime na prática é que seria chamada para trabalhar, de fato, na empresa Casos & Casos. Evidentemente, ela teria acompanhamento de seu superior: o comissário Cunha. Em seu currículo, um vasto repertório de serial killers e padres pedófilos pegos.


— Anali, tenho um caso pra você. Quem sabe, o primeiro de muitos — disse o comissário.

— Tomara, senhor. Eu já estava cansada de ir ao Instituto Médico Legal esperar os corpos e acompanhar a perícia. No mais, sempre perguntava o porquê das avaliações feitas e aprendi muita coisa. Pelo menos, o suficiente.

— Que bom! É sinal de que você amadureceu muito nesses seis meses conosco. A Anali que eu conheci era uma menina sem chão; hoje, vejo que você sabe bem aonde quer chegar.

— Quero trabalhar para o senhor — completou ela, secamente.

— Querida, você pode trabalhar comigo, quanto mais para mim — riu.


Anali pegou os papéis que estavam beirando a mesa e deu uma rápida olhadela no caso. E arrotou um “esse é fácil!”. Cunha ficou encantado com a frieza dela. Era de admirar que uma moça, com trejeitos de menina da cidade grande e rosto de maçã recém-colhida, fosse levar tão naturalmente a morte de dois irmãos gêmeos, enterrados no quintal de casa.


Eles foram à casa dos tais gêmeos na mesma hora. A mãe estava chorando na cozinha, tomando um copo d’água dado por um dos homens do Cunha. Ela soluçava que o marido tinha fugido depois do incidente. Depois disse que ele, antes de partir, cavou o chão do quintal pra simbolicamente enterrar os filhos desaparecidos há três semanas.


— Meu marido... ele comprou dois... caixões bem pequeni...ninos, porque a gente não... tinha notícias dos nossos bebês. Eu nunca... perdi minhas esperanças de eles estarem vivos. Mas... meu marido enlouqueceu — afirmou.


Cunha olhou pra Anali, concentrada no depoimento da pobre mãe. Quando ele tirou os olhos dela, foi sua vez de olhar para o comissário. Ele também desconfiava de algo muito estranho. O casal era novo na cidade e tinha acabado de se tornar pais. Ela o chamou para o canto.


— Não sei, mas mulher tem instinto, sabe?! Acho que já sei quem matou as crianças. Só preciso ver a disposição dos corpos. Vamos lá no quintal!

— Você na frente — inferiu Cunha, impressionado com a sagacidade de sua futura detetive.


[Continua]

2 comentários:

  1. Essa não seria a Sherloucka?
    rsrsrs

    Alana

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  2. "rosto de maça recém-colhida" Rapaz ... mais galante impossível! rs! .... esperando a continuação!

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