sábado, 5 de setembro de 2009

Nada

Ah, tem poeira debaixo desse tapete. O filho estava agindo de modo diferente havia dias. Sua mãe, Carla, já notara isso em seu filho adolescente. Ela há pouco tempo tinha visto uma reportagem na TV (ela não lembrava o canal), onde psicólogos afirmavam que a mudança brusca de comportamento era sinal de que o indivíduo estava se drogando.

Claro que os psicólogos colocaram várias questões a seguir. Citaram casos e como identificar se seu filho está enquadrado nessas circunstâncias. Mas a mãe, agoniada, não pensou duas vezes e foi falar com o marido. Estes estão com o casamento um pouco desgastado, porque ele, que trabalha os três horários, não está dando conta do recado. (Se é que o leitor me entende...) Depois da primeira, ele tentava passar pra segunda, mas embreava errado e acabava dormindo, cheio de angústia.

— Naldo, teu filho tá muito estranho ultimamente.
— Você acha?
— Você não notou?! Impossível...
— Sinceramente não. Passo muito pouco tempo com ele por causa da rotina. Você sabe disso, né, amorzinho?
— É, desculpa. Mas acho que você deveria conversar com ele. Não tenho muito jeito com esses assuntos sérios — disse ela, cabisbaixa.
— Como assim?
— Eu acho que ele tá usando maconha. Ele tá muito esquisito de umas semanas pra cá. Converse direitinho com ele.
— Ah, vou tirar o vídeo game dele!

E Arnaldo foi atrás de seu filho no quarto no mesmo instante. Ao entrar, percebeu que seu filho, num ato fugaz, escondeu algo dentro da mochila. “Epa, epa, epa!”, pensou o pai. “Tem poeira debaixo desse tapete...”. O filho, sem reação, pediu para o pai se sentar e disse que tinha algo que vinha lhe intrigando. Precisava falar naquele exato momento.

— É... pai, eu queria falar com você.
— Veja bem, meu filho. Não vou passar a mão na sua cabeça. Ela vai direto na sua bunda, se você estiver envolvido com droga!
— O quê?! De onde o senhor tirou essa ideia? Sou feliz aqui; não preciso me entorpecer, painho.
— Isso não me convence. Vamos, diga! Você está fumando maconha, cheirando pó? Por que você tá agindo tão estranhamente, Betinho? — perguntou o pai, corando o rosto de raiva.
— Olha, pai... Vou te contar a verdade — murmurou Hebert, surpreso com sua coragem. — Eu... eu vi, sem querer, o senhor e mainha fazendo sexo!
— E o que você viu? — perguntou o pai, surpreso com sua coragem.
— Nada.

Neste momento, o pai corou de vez. Mas agora, de vergonha. Hebert disse que isso era besteira. Já tinha visto vídeos na internet e tudo! E, claro, prometeu ao pai que sua mãe nunca saberia do flagra. Ele singelamente abriu a mochila e deu de presente ao pai um Red Bull, ligeiramente gelado.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito bom!
    Tá criativo, hein?!
    De onde será que vem essa fonte?
    ...
    Esse me fez rir no final.
    Gostei mesmo.

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