segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A famosa ida ao banheiro II

Jorge era um alcoólatra de carteirinha. Tinha conta no bar da esquina, conhecia a todos e era um mestre na arte de encaçapar bolas. “Ninguém bate o homem na sinuca, gente!”, gritava seu parceiro de sempre, Alexis (escrito assim mesmo). E todo dia era o mesmo esquema: trabalho, barzinho, casa, barzinho, sinuca, casa.


Ele morava com a mãe (uma senhora já com certa idade que adorava o Jogo do Bicho), e não era casado. Contudo, tinha um affair com a irmã de Alexis, que era um caso sério. Ele só a procurava quando queria e ela, admirada com seu jeito boêmio, cedia todas as vezes. Mal tirava a roupa e já ia cedendo — e isso não afetava na amizade dos dois velhos amigos.


Pois bem, este era o cenário: Jorge e Alex estavam acabando de voltar pra mesa de mais uma partida de sinuca bem sucedida, enquanto Kerolaine e Dora — a tal irmã de Alexis — conversavam sobre futilidade feminina. “Você viu os novos participantes do Big Brother, mulher?!”, dizia a última. Sobre a mesa, três cervejas; sob a mesa, mais três cervejas. A dupla que perdesse o jogo, haveria de pagar a conta até então da mesa dos ganhadores.


— Muito bom ganhar. Oh, sensação boa! — deliciou-se Jorge.

— Nem me diga. A bola preta parecia que não ia entrar nunca! E cadê os cara pra pagar a conta? Pede aí um tira, enquanto isso... Vai, antes que eles vejam! — disse Alexis.

— Você quer o que Dorinha? O de sempre, né?! Oh, Marcelão, vem cá. Um filé com fritas aqui, por favor... Valeu, chefia!


Os perdedores pagaram a conta. Conversa vai, conversa vem. Álcool entra... álcool tem que sair. Jorge, decidido e com a bexiga cheia, encaminhou-se ao banheiro em grandes passadas. Lá, põe a mão direita na parede, olha pra cima, fecha os olhos e nem faz força: Shuuuuuuá! Desce tudo, juntamente com um frêmito que parece mais uma agulhada na ossatura, de cima a baixo.


Extasiado de prazer, ele põe os olhos num maço de cédulas, bem do lado da lixeira. Jorge não acredita, pega e, mesmo estando melado de urina alheia, deixa pra contar em casa, guardando o dinheiro no bolso direito. Volta pra mesa às pressas, deixa sua parte da conta e diz: “Dorinha, já vou, meu amor. Até amanhã”, dando-lhe uma bitoca na boca. Mas Alexis insistiu:


— Fica pra saideira, Jorginho!

— Nada. Amanhã à noite a gente toma mais. Tô cansado. Abraço! E tchau, Kerolaine — disse ele, com certa pusilanimidade na voz.


E foi. Entrou em casa às pressas em direção do banheiro. Chegou lá e já foi mexendo na calça. A braguilha tava meio que presa. “Vai, vai!”, pensou ele. Urinou um pouco na calça e, por fim, conseguiu abrir e fazer xixi com o deleite habitual dessas horas. Terminado, pegou as notas em seu bolso pra contar.


“Tudo melado de mijo!”, pensou ele, rindo. Havia logo uma onça de primeira. “Eh, sorte! Essa morreu afogaaaaaaaaada na mijadeira”, ironizou, falando meio enrolado. A sequência de cédulas era de maioria de 2 reais. “Porra! Tartaruga marinha sabe nadar!”, gritou ele sozinho no banheiro, rindo com raiva da má sorte.


Sua mãe ouviu vozes e foi ao banheiro: “Meu filho, tudo bem aí dentro?”. Ele, terminando de contar os 76 reais apurados, inferiu: “Tudo, mamãe! Tô tomando banho e cantando”. A velha senhora foi dormir, tranquila. O marmanjo saiu de fininho e foi até a geladeira. Pegou um varalzinho e fez uma engenharia, pensando empolgado: “Vou tomar uma pesada amanhã depois do trabalho que nem venho pra casa almoçar”.


Pendurou todas as notas, lavadinhas, atrás da geladeira pra secar mais rapidamente. No outro dia, assim que acordou, foi à geladeira como uma leoa vai em direção de sua vítima. Puxou a geladeira e nada. “Mas quem terá sido?”, pensou ele. “Mamãe!”. Foi até o quintal, onde dona Lourdes varria serenamente o chão e perguntou, desesperado:


— Mamãe, onde estão as notas que tavam atrás da geladeira? Sabe dizer?

— Eram suas?!

— Não... — disse ele, fazendo uma careta de “Claro, né, sua velha?”.

— Ah, meu filho, me desculpe. Mas eu peguei tudo e joguei no Macaco. Sou viciada no Jogo do Bicho, você sabe...

— Não acredito, não, nisso, mamãe! Era o dinheiro de beber hoje — murmurou ele, em devaneio.

— Pois foi, meu filho. Logo cedo eu fui e joguei tudo nele.

— Porra, mãe! Jogava no 19! Era pra ter jogado no Pavão... — gritou ele, virando as costas e gesticulando.

— Não diga palavrão, menino!

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom, Brê!

    Tem que ter "A famosa ida ao banheiro III" dessa vez envolvendo mulheres.

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. A descrição da sensação ficou muito boa "um frêmito"... Gostei muito, valeu, amigo!!!

    ResponderExcluir
  5. Ta ligado que esse coisa do teu blog vicia né?
    tipo... eu nem tinha comentado nesse pq foi quando eu fui viajar pra Natal... dai quando eu cheguei la eu ficava olhando todo dia, e em um dos dias o monstro (Israel) perguntou: Djabu é que tu tanto catuca ae?
    ai eu respondi: é o blog do Brenu's pÔ! chegue ler as novidades...
    monstro: Ahhh o Breno?! Escreve bem pra caralho ele!
    ai eu: Pois é! Ele é meu amigo!

    P.S. O monstro tbm escreve bem pra caralho! =D

    ResponderExcluir
  6. http://qualoniboseupego.blogspot.com/
    cementem por favor!

    ResponderExcluir

E aí?